Ontem eu lí um texto de um camarada falando sobre Pagode, e
dizendo que só foi conhecer Caetano Veloso na vida dele, quando assistindo ESTE vídeo (no 1:41)¹.
Dantes nunca tinha ouvido nem falar do homem.
Eu queria discorrer um pouquinho sobre isso, e sobre nossa
Esquerda-eurocêntrica ou no máximo Esquerda-latinoamericana (quando
latinoamericana significa Venezuela e Cuba).
Eu, que sou do ABC Paulista, e que toda a minha memória de infância está
em 3 lugares:
1- Na minha rua sem saída (sinônimo de solidariedade entre os
trabalhadores de São Bernardo do Campo - onde tudo se resumia à vida na rua,
desde almoços coletivos, vizinhos que cuidavam da gente a noite quando os pais
saíam, onde todo mundo era tio/tia, até os dias de semana em que havia revezamento entre os que nos levavam pra escola.) Tudo era realmente muito coletivo.
2- Na rua da minha tia em São Paulo onde eu passava os
finais de semana e onde aprendí a ser corintiana vendo o futebol como instrumento de união
na vida das pessoas. As pessoas sempre festejando, churrascos, cerveja,
criançada, pagode², todo mundo carregando a mudança do fulano, todo mundo
correndo atrás de repor a TV do ciclano que a perdeu com a chuva. A
solidariedade brasileira em forma de lugar!
3- No interior de Minas, onde fiz os mais sinceros amigos, de novo, na
rua, no buteco, nas rodas de samba na casa da minha vó, onde qualquer garfo
vira batuque, e qualquer vacilo vira piada (não bullying - piada).
Eu que carrego essa bagagem e que vim pra BH me tornar militante (e também
flertar com o Galão pelos motivos ja expostos aí em cima). Eu sei que o pagode
está "en mis venas".
E eu acho incrível o camarada nos contar que conheceu Caetano por
Alexandre Pires.
Eu acho Caetano um cara único, monstro, competentíssimo, eterno. Eu acho
Alexandre Pires a mesma coisa. SIM. Competentíssimo no que faz.
E um segredo, pra mim, está no mesmo patamar o Grupo Pixote à Belchior (me julguem).
Eu acho que o grandessíssimo erro da esquerda regra geral é ser muito
desinteressante. Desinteressante porque eurocentrica, desinteressante porque
acha que "la revolución" vai se dar em terras tupiniquins ao som de
Silvio Rodriguez e Mercedes Sosa.
Chega a ser chata mesmo. Chata porque pega um menino do movimento estudantil
e bota ele pra ler apenas Lênin e Marx e nada de Monteiro Lobato.
Chata porque quando pós moderna, problematiza Monteiro Lobato, José de
Alencar.
Chata porque nunca discute Macunaíma, mas compara Revolução Urbana
carioca com a Parisiense.
Chata e fria quando atribui comandos de Reforma Agrária baseado via de
regra à dinâmica da vida alemã.
Mais irritantemente descabida quando interpreta feminismo à lá “Femmen”,
um grupo de mulheres brancas americanas e cosmopolitas, que NADA tem a ver com
a nossa realidade.
Aqui é terra de Capitu, eu quero problematizar a vida da Tia Anastácia,
e nem precisa vir com a frase de Emma Goldman sobre “dançar é minha revolução”.
Aqui nós já dançávamos meus amores, a barriga ta quente nesse tabuleiro desde a escravidão, e o que somos é Capoeira.
Aliás, enquanto as mulheres brancas se organizavam para o dia internacional e a redução de horas de jornada, a nossa tataravó estava em uma senzala, oxalá estivesse numa fábrica de tecidos.
Aqui nós já dançávamos meus amores, a barriga ta quente nesse tabuleiro desde a escravidão, e o que somos é Capoeira.
Aliás, enquanto as mulheres brancas se organizavam para o dia internacional e a redução de horas de jornada, a nossa tataravó estava em uma senzala, oxalá estivesse numa fábrica de tecidos.
A esquerda brasileira quando não nacionalista, reproduz o que o
capitalismo mais faz conosco: Nos afasta de nossos pertencimentos e nos dita o
que copiar.
Não por acaso as “roupitchas” de nossos militantes-quadros-iluminados
imita a Europa camponesa. Eu quero ver liderança de boné de aba reta ter o
mesmo espaço de fala.
Aqui é miscigenação "adoidada"! A diversidade nos faz ímpares.
Aqui não tem gueto estadunidense e nem há porque haver
"lacração" em nossas falas ou militância individual. Isso não é
nosso.
Aqui é terra de Maria Felipa, mulher sedutora e forte se unir à uma
freira (Joana Angélica), e Maria Quitéria vestir a roupa do cunhado pra lutar e
decretar independência da Bahia, (aposto que as três griataram por dentro: Vai Baêa
minha pooorra), antes dos enfrentamentos. Aqui é tudo misturado mermo.
Nosso país de Trombas e Formoso, Canudos, Tenentismo, Malês, mas também
é resistência via geral do Maracanã, futebol e pagode dos anos 90. E nossa
gente é patrimônio cultural por tudo isso!
O mundo inteiro olha pra nós e vê criatividade, e até quem é de reza
sabe: Coração do Mundo, Pátria do Evagelho.
Nós somos fodas.
E mais que isso, sempre nos forjamos em coletivos que nos abraçaram. Portanto, enquanto não abraçarem nosso jeito de ser, enquanto a academia e os intelectuais dobram o nariz para nossos costumes e nossa música, não haverá diálogo que se sustente por muito tempo.
Nós somos fodas.
E mais que isso, sempre nos forjamos em coletivos que nos abraçaram. Portanto, enquanto não abraçarem nosso jeito de ser, enquanto a academia e os intelectuais dobram o nariz para nossos costumes e nossa música, não haverá diálogo que se sustente por muito tempo.
É neste ponto que a esquerda se perde, é bem por aí que os movimentos “auxiliam”
as ocupações, mas não fazem parte dela. Não há representação, nem
pertencimento.
A metodologia dos espaços de discussão nos traz à tona uma esquerda nostálgica, eurocêntrica, maçante e incapaz de se reinventar.
Portanto, deem o play e escutem o melhor dos anos 90. Reparem que no olhar desse negão vencedor eu vejo mais resistência que muito poema bonito de quem trata o negro como zoológico e produz “material de pesquisa”.
E para os intelectuais não se sentirem tão mal, ainda um segundo link³ com algo que pode os apetecer os ouvidos ou que dialogue minimamente com vossos corações mais frios que a armação de seus óculos:
A metodologia dos espaços de discussão nos traz à tona uma esquerda nostálgica, eurocêntrica, maçante e incapaz de se reinventar.
Portanto, deem o play e escutem o melhor dos anos 90. Reparem que no olhar desse negão vencedor eu vejo mais resistência que muito poema bonito de quem trata o negro como zoológico e produz “material de pesquisa”.
E para os intelectuais não se sentirem tão mal, ainda um segundo link³ com algo que pode os apetecer os ouvidos ou que dialogue minimamente com vossos corações mais frios que a armação de seus óculos:
¹- Só pra Contrariar – Final Feliz Aqui!
²- Ufa, podemos falar a palavra "Pagode", já que: "A Lei Geral da Copa, deu à Fifa direito à tramitação acelerada dos pedidos de registro de marcas no INPI, logo, a FIFA, registrou no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a marca Pagode para proteger fontes de impressão, como a Times New Roman, Arial, dentre outras. “Pagode”, é a fonte usada na marca do mundial de 2014. Ou seja, até 31 de dezembro de 2014, “Pagode” fazia parte do grupo de palavras, expressões e imagens que não poderiam ser usadas em nenhuma atividade comercial. Como por exemplo, Pagode da Boa do Arlindo Cruz."
²- Ufa, podemos falar a palavra "Pagode", já que: "A Lei Geral da Copa, deu à Fifa direito à tramitação acelerada dos pedidos de registro de marcas no INPI, logo, a FIFA, registrou no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a marca Pagode para proteger fontes de impressão, como a Times New Roman, Arial, dentre outras. “Pagode”, é a fonte usada na marca do mundial de 2014. Ou seja, até 31 de dezembro de 2014, “Pagode” fazia parte do grupo de palavras, expressões e imagens que não poderiam ser usadas em nenhuma atividade comercial. Como por exemplo, Pagode da Boa do Arlindo Cruz."
³- Tom Zé – Complexo de Épico ou “Todo compositor brasileiro é um
complexado” Aqui!