Apólogo

Apólogo

"O velho Torquato dá relevo ao que conta à força de imagens engraçadas ou apólogos. Ontem explica o mal de nossa raça: preguiça de pensar.
E restringindo o asserto à classe agrícola:

- Se o governo agarrase um cento de fazendeiros dos mais ilustres e os trancasse nesta sala, com cem machados naquele canto e uma floresta virgem ali adiante; e se naquele quarto pusesse uma mesa com papel, pena e tintas, e lhes dissesse:
"Ou vocês pensam meia hora naquele papel ou botam abaixo aquela mata", daí cinco minutos cento e um machados pipocavam nas perobas!... "

(Monteiro Lobato - Cidades Mortas)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Nada causa mais horror à ordem


A consagração do belo trabalho da pequena atriz teria outra repercussão caso a mocinha tivesse nascido 2 tons mais clara. Sim. É um fato.

Quvenzhané é negra, e é mulher. E "nada causa mais horror à ordem do que mulheres que lutam e sonham" já diria J. Martí.
A pequena garota talvez esperasse o mundo aos seus pés diante do que representa a celebração do Oscar, mas não, ao longo dos seus 9 anos, ela - e todos os negros - cresceram ouvindo o que os brancos chamam de "piadas", mas é racismo mesmo!
Não seria diferente se no grande dia - assim como
em todos os outros de sua vida - ela sofresse o racismo fantasiado de "piada".

Quvenzhané não seria consagrada simplesmente pelo talento sendo mulher e negra. Com apenas 9 anos foi chamada em público de "cunt" (a pior ofensa da língua inglesa, que à nossa tradução significaria "boceta"), uma forma de adjetivar "de brincadeira, é claro" a mulherzinha negra que virou estrela.

Logo a ofensa foi retratada via twitter e seguida de uma justificativa: Seria apenas uma piada.


Em tempos de tanto apelo à liberdade de expressão (vedada principalmente na máquina capitalista), falar o que se quer só é permitido quando o locutor é um homem branco e a vítima, digo, ouvinte, um negro, ou uma mulher, ou um gay.

Para estes 3 seres, Há sempre o sexismo, o racismo, a misoginia, o ódio e preconceito transvestidos de "piada" de forma a assoprar o que se feriu.

Ando particularmente cansada de piadas. A vida, a dignidade das pessoas, a integridade física e mental não são condizentes com piadas. E ponto.

Quer o mundo conservador queira ou não.

Somos mulheres, somos negros, somos gays, somos transsexuais, somos  a escória da história mundial e ainda assim somos seres humanos cada vez mais capazes, apesar do mundo conspirar contra. Incomodamos.

A pequena estrela de Hollywood incomoda e isso é tudo.

O Papa caiu, negros e mulheres ocupam o espaço dos antigos senhores do patriarcado, na política, na arte, no judiciário.. Bons ventos nos trazem e os Senhores terão de nos engolir!


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* Segue abaixo a memorável fotografia de Dorothy Counter, primeira mulher a frequentar a escola nos EUA em setembro de 1957, sob deboches e piadas. Qualquer semelhança...





Luara Colpa





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