Apólogo

Apólogo

"O velho Torquato dá relevo ao que conta à força de imagens engraçadas ou apólogos. Ontem explica o mal de nossa raça: preguiça de pensar.
E restringindo o asserto à classe agrícola:

- Se o governo agarrase um cento de fazendeiros dos mais ilustres e os trancasse nesta sala, com cem machados naquele canto e uma floresta virgem ali adiante; e se naquele quarto pusesse uma mesa com papel, pena e tintas, e lhes dissesse:
"Ou vocês pensam meia hora naquele papel ou botam abaixo aquela mata", daí cinco minutos cento e um machados pipocavam nas perobas!... "

(Monteiro Lobato - Cidades Mortas)

segunda-feira, 11 de março de 2013

O 8 de março

O 08 de março.

Me lembro muito bem de à esta data, por vários anos, ver meu pai entrar em casa com 3 rosas, para minha mãe, eu e minha irmã. Bonito dia em que haviam mais pessoas vendendo ou dando mesmo flores nos semáforos de Belo Horizonte. Na escola homenageávamos a Virgem Santa e os funcionários nos parabenizavam pelo nosso dia.

Mas eu, e minha irmã, éramos apenas duas crianças, mal sabíamos... o que representa ser mulher. Por estarmos num colégio católico, talvez fizéssemos idéia de que éramos a expectativa da materialização da doçura e beleza, e a contemplação de mulheres históricas fortes, mas imaculadas. Parceiras, mas obedientes, bonitas, mas tampadas.

Crescemos. Cada uma tomou um rumo na vida e em vários pontos divergimos. Mas temos algo em comum: Somos mulheres, sofremos no âmbito de nossos diferentes cenários de vida a flagelação de ser mulher, independente de convergirmos em qualquer debate, e que ironia convergirmos apenas na dor.

Este ano em especial prefiro me abster da minha flor "de direito" com a melhor das intenções de meu pai, também das congratulações quase maquinais dos funcionários de prédios públicos, me abstenho de receber parabens por manter a ordem das coisas como estão.

Falo isso, pois desde que sou criança e observo o mundo, ja ví muita coisa melhorar: As piadas em relação aos negros, caíram em desuso, raros são os que ainda riem. O debate homossexual, graças à bons militantes, têm sido levado em consideração, mesmo que minimamente, há maiores ganhos e respeito.

Mas às mulheres, não.
Não falo aqui de equiparação salarial, ou do avanço da Lei Maria da Penha, falo do dia a dia, da violência psicológica, de piadas, flertes, subjugação, preconceito, exploração, assédio moral e sexual.

Entre compadres da política, política ainda é para homens, e a mulher para futilidade e apelo sexual. É a máxima.

Com esperança, desejo muita força para as companheiras não no 08 de março que é dia bonito de luta, marcha nas ruas e flores, mas desejo força mesmo é no dia 09, quando a vida volta ao normal e somos ainda as vítimas do machismo, dos homens para com as mulheres e da competição das mulheres para com as próprias mulheres, numa rivalidade machista e deturpadora.

Que se perpetue um 8 de março não só para as imaculadas mulheres que nos serviam de referência, mas por todas: As mães, ás estudantes, às realizadas, às juizas, as marginalizadas as putas, as drogadas, as negras, as brancas, as vulgares, as felizes...

À todas que existem dentro de nós e um dia, quem sabe: ÀS LIVRES!!!
 
 

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